22 de Outubro, 2025 07h10mGeral por Agência Brasil

Estudo prevê substituição de roedor em testes antiveneno de serpentes

Pesquisa da bióloga Renata Norbert, do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (INCQS/Fiocruz), sobre a substituição de camundongos por ensaios in vitro para controle da qualidade de soros contra o veneno de cobras do

Pesquisa da bióloga Renata Norbert, do Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz (INCQS/Fiocruz), sobre a substituição de camundongos por ensaios in vitro para controle da qualidade de soros contra o veneno de cobras do gênero Bothrops, foi premiado pela Sociedade Europeia para Alternativa de Testes em Animais, no 13º Congresso Mundial de Alternativas ao Uso de Animais.

O trabalho obteve também menção honrosa do Centro Nacional para a Substituição, Refinamento e Redução de Animais em Pesquisa, organização científica britânica.

Em entrevista para a Agência Brasil, Renata Norbert disse que o estudo vem sendo desenvolvido há algum tempo porque, desde 2001, o INCQS vem fazendo apelos para a substituição desses animais, não só para evitar o sofrimento da espécie nos testes, mas também porque a pesquisa demonstrou resultados mais rápidos e mais baratos. >> Siga o canal da Agência Brasil no WhatsApp

Segundo Renata, a cadeia produtiva antiveneno engloba muitas etapas. Em todas elas, desde a produção, há um controle interno para assegurar a qualidade.

Ao final da produção, o lote vai para teste no INCQS, onde também é utilizada uma grande quantidade de camundongos visando a liberação do produto para o Programa Nacional de Imunização (PNI) para a população brasileira.

“Nós conseguimos avançar na fase de pré-validação que, até o momento, no mundo inteiro, não existe para antivenenos. Existe para cosméticos, existe para outros produtos. Para antivenenos, é a primeira pesquisa que chega à fase de pré-validação”, acentuou Renata.

Agora, o estudo está na última fase, que abrange a reprodutibilidade de outros laboratórios para atestar a robustez do método. “Os outros laboratórios vão testar a metodologia que a gente pré-validou para observar se eles conseguem obter os mesmos resultados. Acho que esse foi o maior diferencial do nosso trabalho:  avançar um passo a mais na validação”.

Metodologia

A substituição de camundongos por células Vero, cultivadas em laboratório, poderá ser adotada também por produtores, o que evitará o uso de roedores. A metodologia in vitro prevê o uso dessas células Vero que, após serem fixadas em placas, recebem uma mistura de soro com veneno.

Caso as células permaneçam intactas, o soro está aprovado porque inibiu a ação do veneno. Qualquer efeito tóxico, ao contrário, significa que o soro foi reprovado.

Depois dessa etapa, a meta é submeter o resultado da pesquisa para a farmacopeia brasileira, de modo a  colocá-lo em prática. “A gente quer sair da pesquisa e aplicá-la na prática”, diz a especialista.

Serão montados kits de ensaios para que os laboratórios possam realizar a metodologia e verificar os resultados, fazendo-se ainda a comparação entre os resultados apresentados pelos laboratórios. “Com os dados, a gente faz a estatística e vê a reprodutibilidade, se eles conseguem obter os mesmos resultados que a gente conseguiu no INCQS”, frisa Renata. Esses resultados serão publicados e submetidos aos órgãos reguladores. “O nosso sonho é fazer um estudo maior, que incluísse até laboratórios fora do Brasil porque essas serpentes Bothrops existem em outros países, como a Costa Rica, por exemplo. Não se limitam ao Brasil”, acrescenta.

Para Renata Norbert, o reconhecimento internacional obtido pelo estudo foi um estímulo a mais para dar prosseguimento à pesquisa. Ela acredita que - partir de março de 2026 - o projeto poderá ser colocado em prática.

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Ganhos

Em dezembro deste ano, Renata irá se reunir com os produtores e um número maior de pessoas interessadas na multiplicação desse conhecimento visando colocá-lo  em prática. Ela quer tentar a expansão do projeto para o exterior. A premiação contribuiu para isso. A bióloga do INCQS reforçou que o método é mais rápido e barato do que utilizando os camundongos. “Chega a reduzir em até 69% o custo”, frisou.  

Testes antiveneno causam muito sofrimento aos animais usados em grande quantidade. Eles acabam sacrificados - Foto -  Vital Brazil/Direitos reservados

Assim, isso se explica porque é necessário um número muito grande de roedores criados no Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz) e chegam até a fase adulta para que possam ser utilizados em pesquisas.

Renata Norbert explicou que o teste para antiveneno causa muito sofrimento aos animais usados em grande quantidade, e que, após esse método, são sacrificados. “Trata-se de um teste longo e doloroso, sem anestesia”, esclarece. Daí a razão de a pesquisa buscar sua substituição por ensaios in vitro.

O método desenvolvido pela bióloga no INCQS “é simples e rápido. A gente libera o resultado em uma semana, enquanto os camundongos levam pelo menos um mês na produção até chegarem à fase adulta. Depois, ainda vão para o INCQS para aclimatar e ficam dias no laboratório, antes de serem experimentados. O nosso método é simples, então dá uma diferença grande. Após a validação, vai ser um ganho muito grande”, assegura. 

O INCQS já utiliza a metodologia de células para liberação de vacinas. Para venenos, o estudo de Renata  é pioneiro. Ela pretende estender a pesquisa internacionalmente para outros tipos de serpente Bothrops “porque, se ela é efetiva para Bothrops jararaca, também pode ser para Bothrops Asper, encontrada na América Central e no norte da América do Sul. Na Costa Rica, por exemplo, seria muito importante”. 

Envenenamento

Para o INCQS, as serpentes Bothrops são responsáveis por cerca de 90% dos casos de envenenamento por cobras em humanos no Brasil. Além da possibilidade de levar a pessoa a óbito, a peçonha desses répteis pode causar hemorragia, necroses ou mesmo amputações dos membros afetados.

Apesar disso, o envenenamento por Bothrops não desperta o interesse comercial da indústria farmacêutica privada, informou o Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde. Daí, a Organização Mundial de Saúde (OMS) o classifica como doença tropical negligenciada.

O antiveneno e os ensaios para verificar sua qualidade são feitos pelas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), como o INCQS/Fiocruz, Instituto Vital Brasil,  Instituto Butantan e a Fundação Ezequiel Dias.

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