Dona Morena: fazedora de bonecas e patrimônio da poesia brasileira

Fazedora de bonecas de pano e patrimônio cultural e histórico da Ilha do Ferro, a famosa vila do município de Pão de Açúcar, no sertão de Alagoas. Aos 99 anos, Dona Morena é a artista mais velha e ilustre do pequeno povoado. À beira do Rio São Francisco, a quase 250 km da capital Maceió, o lugar é famoso porque grande parte dos moradores fazem das suas casas ateliês de produção do artesanato local.

Na casa de Dona Morena não poderia ser diferente. Ela é conhecida em todo canto da Ilha do Ferro, e das Alagoas, por ser poeta, benzedeira e bonequeira. O ofício e a arte de fazer bonecas de pano, ela conta que aprendeu ainda criança:

“Meu pai ia pra rua comprar boneca para nós brincar. Eu não era gente, achava que mãe dava a mais bonita às outras e me dava a mais feia. Quando foi um dia, eu cheguei, peguei as bonecas das meninas, rasguei tudinho. Quando eu parei de chorar, peguei a minha e cosi todinha. Bem, desde esse tempo que eu comecei a fazer boneca pra gente brincar”.

Bernardete Rosália Teixeira – ou Dona Morena, como é conhecida por todos – tece bonecas de pano de vários tamanhos, cores e tecidos. Cada ponto bordado cria uma boneca com roupas enfeitadas, história e nome próprio. E não é que Dona Morena faz questão de batizar uma por uma? Tem Augusta, Alice, Clemilda, Vicença, Luzia e Luzinete.

Mestra dos fazeres e saberes tradicionais, Dona Morena borda memórias, tece sonhos, inspira novas gerações. Transforma sua arte em poesia viva.

Esta semana, a bonequeira completou 99 anos e foi celebrada pelos moradores da Ilha do Ferro, que levaram até uma banda de pífano para dentro da casa da poeta.

Neste Dia Mundial da Poesia, 21 de março, a Dona Morena, com quase 100 anos de vida e de arte, é senhora do tempo, testemunha do Velho Chico e patrimônio da poesia brasileira.